quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Fundo de acordo com a lei islâmica

O Banco Best lançou em finais do ano passado o primeiro fundo, em Portugal, que está de acordo com as disposições da Sharia, a lei islâmica. O fundo "Fundo Credit Suisse Sicav One (Lux) Equity Al-Buraq" exclui tudo o que tem a ver com cobrança ou pagamento de juros, proibidos para a comunidade islâmica. O fundo é gerido pela Credit Suisse, e centra-se em empresas com características mais defensivas, privilegiando o investimento nos sectores da saúde, farmácia, energia, metais e mineiro e transportes. Para assegurar que os investimentos são de acordo com as disposições islâmicas, foi criado um "Comité de Aconselhamento" composto por três proeminentes especialistas na Sharia. (Link).
Em "Islamonline.com" pode lêr-se que o ABSA um banco Sul Africano introduziu um serviço que possibilitará aos seus clientes muçulmanos abrir contas de poupança que estejam de acordo com a lei da Sharia. Os seus produtos e serviços terão como alvo os mercados das comunidades muçulmanas da Grã-Bretanha, Alemanha, Singapura, Angola, Moçambique, Tanzânia e Zimbabwe. Os clientes poderão usufruir da rede das caixas automáticas do banco assim como de um serviço de call center especifico à banca islâmica. O Banco oferece também serviços de gestão de recursos financeiros e produtos de investimento, e poder-se-á comprar um automóvel através de um produto que o Banco tem, tudo em conformidade com a lei Islâmica.
Na Malásia, segundo o ministro das finanças malaio, Nor Mohamed Yakcop, a Malásia está em vias de tornar-se no centro das finanças islâmicas: “Nós temos o que é preciso, crescemos muito em 24 anos desde 1983, quando só havia um banco islâmico. O aumento da aceitação dos produtos financeiros islâmicos oferece grandes oportunidades para os financeiros malaios.” O sr. Yakcop acrescentou que “o caminho é expandir a diversidade dos produtos para ir ao encontro dos requisitos pretendidos pelos investidores sofisticados”, deste modo, os malaios muçulmanos criaram um esquema a longo prazo para desenvolver novos planos de investimento com o objectivo de atrair os fundos globais islâmicos, numa tentativa de tornar a Malásia num centro de finanças islâmicas com importância a nível global.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Sheik Munir na Maia

Porto, 09 Fev (Lusa) - O líder da comunidade muçulmana de Lisboa, sheikh David Munir, criticou hoje, na Maia, a confusão crescente do Islão com o terrorismo, desde os atentados de 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque.
"É uma situação insustentável porque, desde então, os muçulmanos entram em paranóia cada vez que rebenta uma bomba no mundo, porque todos pensam que foram eles, mesmo que isso não seja verdade", afirmou.
O sheikh acrscentou que esta mudança de atitude face aos muçulmanos repete-se e muitas outras situações do quotidiano.
"Antigamente, se uma mulher muçulmana tapava o cabelo, era olhada com curiosidade, hoje em dia isso é encarado quase como uma provocação. Já as freiras católicas podem tapar o cabelo à vontade, sem despertar qualquer reacção", exemplificou David Munir.
O líder religioso falava durante uma conferência/debate promovida pelo Instituto Superior da Maia sob o tema "As religiões e a construção do futuro", em que participaram também o bispo do Porto, D. Manuel Clemente, e Nuno Whanon Martins, especialista da religião judaica.
O sheikh Munir aproveitou a ocasião para procurar desfazer uma série de equívocos muito comuns que, no seu entender, distorcem a imagem do Islão.
"Por exemplo, os casamentos arranjados não são Islão, são tradição, se existem é porque fazem parte das culturas locais", afirmou, acrescentando que o Corão garante às mulheres a possibilidade de escolherem os seus maridos e vice-versa.
Sublinhou ainda que os casamentos arranjados são prática em muitas culturas e religiões e até ao século XIX e meados do século XX eram correntes na Europa.
"O mesmo acontece com o dote que as famílias das noivas dão aos noivos,o que acontece também em muitas outras religiões, incluindo a cristãs. Isso não faz parte do Islão, não há nada no Corão que o legitime. Dote não é Islão, é tradição", afirmou.
David Munir admitiu, porém, que o Islão não separa o poder político do religioso.
"No Islão há só um poder e uma lei, a Sharia (conjunto de leis religiosas islâmicas), mas não conheço nenhum país islâmico no mundo que a aplique a cem por cento", defendeu.
Relativamente à posição das mulheres na sociedade islâmica, o sheikh frisou que há muitas proibições em países islâmicos que nada têm a ver com a Sharia, mas sim com costumes locais.
"São exemplos disso, a proibição de conduzir na Arábia Saudita, que não existe em mais país islâmico nenhum, e o acesso a lugares de direcção política, que também não é vedado às mulheres, como se viu no Paquistão, com a senhora Benazir Bhutto, que foi primeira-ministra por duas vezes, num país islâmico".
Criticou também a ideia vigente de que o Islão é contrário ao trabalho das mulheres.
"Vejam o meu caso pessoal, a minha mulher é médica, trabalha e até ganha muito mais do que eu. É claro que isso não vai contra o Islão", garantiu.
Quanto ao acesso à religião islâmica, o sheikh garantiu que "qualquer um que o deseje pode entrar na religião islâmica e é bem-vindo".
Já para um muçulmano, convertido ou de origem, sair da religião as coisas são um pouco mais complicadas.
"Se as pessoas têm dúvidas e querem sair, há sempre toda a abertura para as esclarecer", sublinhou.
Mas se mesmo assim as dúvidas permanecerem, as pessoas são livres de sair, deixando de frequentar as mesquitas "desde que o façam com recato, de forma não ostensiva", mesmo em países islâmicos.
"O Corão diz que aqueles que rejeitarem o Islão terão que se enfrentar directamente com Deus. Os homens não têm poder para os julgar", assegurou.
No entanto, o sheikh admitiu que, embora o Corão não reconheça aos homens a faculdade de julgar os apóstatas, essa atitude é muitas vezes sancionada severamente pelas sociedades islâmicas no seu ordenamento jurídico, sempre e quando o abandono da fé seja assumido publicamente e de forma afrontosa.

PF.
Lusa/Fim