quarta-feira, 14 de maio de 2008

Fátima quer abraçar Islão

Correio da Manhã: 13 Maio 2008 - 11h00
Peregrinação: Cardeal D. Saraiva Martins apela à cooperação com os muçulmanos
Fátima quer abraçar Islão
Um apelo ao diálogo e à cooperação com os muçulmanos do Islão foi ontem à noite feito em Fátima pelo cardeal D. Saraiva Martins na missa da peregrinação, em que também incitou os cristãos a viverem na verdade.

"A tarefa da construção da paz passa pelo diálogo sincero e recíproca cooperação entre as três grandes religiões monoteístas que professam a fé de Abraão no Deus único e verdadeiro e não podem, em nome dessa fé, desfigurar com gestos de ódio e de violência o rosto autêntico de Deus", afirmou o presidente da peregrinação na homilia.
À tarde, na Conferência de imprensa promovida pelo Santuário, o cardeal explicou aos jornalistas que o apelo resulta de uma "reflexão pessoal", baseada na sua experiência e relação com os muçulmanos e por entender que "nenhuma religião pode ficar fechada em si mesma".
"Os muçulmanos do Islão vivem ao nosso lado e são nossos irmãos, por isso o diálogo é inevitável, primeiro com as tendências mais abertas e depois, em consequência da globalização, com os grupos mais radicais", defendeu D. Saraiva Martins.
Na sua homilia, intitulada ‘Ser construtores da paz, testemunhando o Evangelho da verdade’, o cardeal incitou os peregrinos a viverem na verdade e a afirmarem o amor incondicional a Deus.
"A verdade é o próprio ser amoroso, fiel e constante de Deus, que se exprime na Palavra e nas suas obras", disse D. Saraiva Martins, salientando que essa é "exactamente" a mensagem de Fátima.
Nas palavras do prelado, o "chamamento primordial" da mensagem de Fátima é o apelo evangélico a que os cristãos vivam "na verdade, isto é, no amor".
E Nossa Senhora fá-lo como "verdadeira ícone do amor maternal, da verdade de Deus. Ela inclui os pecadores, os ateus, mas também os cristãos adormecidos e fala aos responsáveis das nações enquanto interpela as três criancinhas, incitando-as a serem construtores da paz".
A defesa da verdade foi também feita pelo bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, ao criticar a actual "civilização da máscara, das aparências, do efémero e da mentira", que, "nas suas várias formas, entra na categoria de pescado".
Na opinião de D. António Marto, "o grande drama da sociedade do nosso tempo é não acreditar em nenhuma verdade", pelo que é urgente "propor uma visão alternativa assente na verdade", dando como exemplo o amor. "Um só gesto de amor é capaz de fazer mais pela paz do que todas as armas do Mundo", conclui.

REITOR CRITICA IMPOSTOS SOBRE OFERTAS
O eventual pagamento de impostos sobre os juros dos depósitos provenientes das ofertas dos crentes, que deverá resultar da regulamentação da Concordata, foi ontem criticado pelo reitor do Santuário de Fátima, monsenhor Luciano Guerra, que entende que "se o capital é da actividade religiosa não deve ser sujeito a tributação fiscal". "E mesmo a loja de artigos religiosos não deve ser tratada como outra loja qualquer, do ponto de vista fiscal, porque não a queremos para construir riqueza com fins alheios à nossa actividade espiritual", defendeu o reitor, que justificou o atraso na aprovação das contas da instituição com dificuldades em distinguir o que é religioso (e não está sujeito ao pagamento de imposto) do que não é.
... /Isabel Jordão